Rota dos Melões’13

Após a frustração de há umas semanas atrás, onde a minha participação no raid X-par se resumiu a escassos oito quilómetros, devido a um duplo furo, a minha motivação e vontade de esquecer esse episódio estavam a fervilhar. Mesmo com pouco treino de bicicleta nas pernas, mesmo sem a companhia dos restantes comparsas do Clube Rota da Rolha, lá parti eu rumo ao concelho de Barcelos, mais concretamente à freguesia de Vila Seca. As previsões meteorológicas que, durante a semana, previam fazer jus ao nome da localidade saíram um pouco furadas, pois o dia amanheceu fresco e o próprio sol fez umas férias. Ao chegar à pacata localidade de Vila Seca o sol ainda dormia e o nevoeiro , com o seu fumo húmido e fresco, pintava o cenário com o suspense digno de um thriller. As condições estavam ideais para uma bela manhã de BTT.

Passados os cinco minutos de atraso da praxe, lá foi autorizada a partida. Na largada supersónica muitos atletas puderam sprintar,  ao longo da extensa recta em alcatrão, de forma a melhor se posicionarem no pelotão. Muito perto da portagem de acesso à A11 começava finalmente o contacto com os terrenos de eleição dos betetistas – longe da estrada. O início foi pautado por vários problemas mecânicos – recordo-me de, nos primeiros quilómetros, ter visto um par de correntes partidas e uns quatro ou cinco furos – mas, também pela enorme vontade dos atletas sentirem o chão. Felizmente, livrei-me destes abraços e amassos. Até ao reforço – ao quilómetro quinze – o percurso foi bastante agradável, grande parte dele feito de mão dada com o rio Cávado, com algum pó e pedra à mistura e vários terrenos de cultivo. Chegado ao reforço, as pernas estavam a pedir, não para parar e descansar um pouco, mas sim para pedalar! Por isso, num abrir e fechar de olhos esvaziei uma garrafa de água, agarrei numa peça de fruta e segui a minha marcha. Para os Reis do Reforço do Clube Rota da Rolha poderem salivar, posso revelar que havia lá uns croissants e uma bola com um aspecto fantástico mas, em vossa memória não ousei sequer tocar! 😀

A segunda metade do percurso foi ligeiramente diferente da primeira. Foi mais variada e multifacetada. Teve mais estrada e singletracks, mas continuou a ter adrenalina e diversão! Logo após a zona do reforço havia a divisão entre as duas distâncias disponíveis – 30 e 60 quilómetros -. Apesar de nesta altura me sentir bem, não alterei os meus planos e optei pelo percurso mais pequeno. A fase inicial da segunda metade do trajecto, à semelhança do início da prova, foi muito rápida. Um estradão de saibro muito liso, com uma extensão de dois a três quilómetros, quase sempre em linha recta e com uma ou outra descida, proporcionaram-me velocidades na ordem dos quarenta e cinco quilómetros por hora! Esta velocidade elevada, aliada à confiança depositada nos que iam na minha dianteira resultou numa saída de rota. Foram apenas cem metros em que estivemos todos perdidos. Sensivelmente à passagem do quilómetro vinte e sete deu-se o momento do dia. Depois de descer uma rampa de madeira, um ramo traiçoeiro, em forma de alça, abraçou o meu pedal direito fazendo-me desequilibrar e, consequentemente, cair num ribeiro repleto de lama! Instintivamente amorteci a queda com o pé e a mão, que ficaram invisíveis naquela piscina castanha. O semi mergulho também não poupou umas valentes empastadas de lama na cara. Até o punho direito da bicicleta mergulhou! O meu especial agradecimento ao betetista que içou a minha bicicleta, impedindo esta de competir comigo, no que a mergulhos diz respeito! Quem também agradece é o agricultor do terreno do lado oposto. O facto de eu ter caído para o lado direito ao invés do esquerdo salvou-lhe o milho! 😀

Ultrapassado o abanão do mergulho, demorei a readaptar-me à bicicleta. O peso da lama nos sapatos e na mão tornava o equilíbrio uma nova descoberta! Após a “piscina castanha” iniciava-se uma fase de silgletracks, com várias rampas de madeira e algo que não é a minha praia – serpentear por um emaranhado de árvores muito jovens. Ainda não tinha esquecido o mergulho radical quando mais um episódio caricato acontece. Numa entrada no mato muito apertada à esquerda, junto a uma casa em obras, os meus calções ficam presos num pedaço de viga de ferro, provocando um rasgão nos mesmos e um arranhão valente na nádega!:D O resto do trajecto foi feito a rir-me para comigo e a pensar no que mais me aconteceria até ao fim! Felizmente, nada de mais aconteceu e cheguei ao fim inteiro e bastante satisfeito. Fisicamente senti-me bem durante toda a prova e as cãibras não chatearam. A nível mecânico a bicicleta esteve impec! Os novos rolamentos na pedaleira, o novo cepo e desobstrução da direcção trouxeram melhorias de condução.

Dou os parabéns à organização pelo traçado bem agradável que escolheram, pelo acolhimento e simpatia. O reforço, pelo que espreitei estava à medida do exigível. Quanto à marcação do traçado esteve aceitável, embora uma ou outra fita estivesse pouco visível. Em relação à segurança, penso que estiveram bem na presença de elementos da polícia a cortar o trânsito nos cruzamentos mais movimentados, tal como de elementos do staff nos restantes cruzamentos mais perigosos. Faço apenas uma ressalva a nível organizacional. Os banhos, apesar de excelentes, distavam um pouco do local da partida. Isso obrigou a uma logística dispensável se os mesmos estivessem sediados mais perto do local de partida. De resto, tudo esteve impecável. Foi a primeira participação e, provavelmente, não terá sido a última!

Ricardo Marques
14/07/2013

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Um pensamento sobre “Rota dos Melões’13

  1. Luis Mota disse:

    Ricardo, andas em maré de aventuras aziagas. Não te preocupes, melhores dias virão.
    O Clube Rota da Rolha vai organizar um passeio em tua honra, para que os dias de sol voltem à tua veia ciclista!

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