Ahh, as saudades que tínhamos disto!!
De sair da cama às seis da madrugada, da logístita de preparar o saco, de montar os suportes para as bicicletas, de fazermo-nos à estrada e nela assistirmos ao raiar do dia.
Cerca de dois anos e meio após a última presença massiva num evento de btt, período de ausência marcado por pandemias e pandemónios vários que reduziram a aparição Rolha a apenas um ou outro momento digno de registo, escolhemos o Louriçal para o regresso.
“Não voltes nunca ao local onde já foste feliz!” E porque não?!?
Com as transactas experiências de 2014, 2015 e 2016, sabíamos de antemão que este raid era a opção certa para reunir as tropas, pois o Raid Lama Solta tem tudo aquilo que prezamos neste desporto: bons trilhos, diversão, gargalhadas, companheirismo, amizade e, claro está, bons reforços!
Até o S.Pedro se vestiu a rigor para o evento, brindando os seiscentos participantes com um belo dia para a prática da modalidade.
O relógio marcava nove horas em ponto quando o speaker forneceu as últimas indicações aos atletas, ansiosos por gastar pneu.
Para manter a tradição lá nos posicionamos na cauda da grelha de partida e, mesmo antes do início, ainda fomos abordados por um casal de feirantes ciganos que nos tentaram impigir artigos têxteis de qualidade duvidosa. Mas, vestidos a rigor estávamos nós, portanto não caímos no conto do vigário.
Com a pontualidade habitual, quinze minutos depois das nove da manhã, finalmente colocámos o pé no pedal e enfrentámos a primeira subida do dia, da cauda do pelotão até ao pórtico de partida!
Os primeiros quilómetros foram bastante rolantes, primeiramente pela vila e depois por estradões ladeados por campos de cultivo. Tudo ía bastante fluído até que, cerca dos sete quilómetros, se dá o primeiro (e único) engarrafamento do dia. Na verdade, era de pressão e bem fresquinha! Os metros de fila desaguavam numa ponte suspensa sobre o Rio Pranto, que unia uma das margens a…uma galera de um camião!!!!onde eram servidos finos, acompanhados de presunto!!! Eis o Trilho da TIL!
Ainda com o copo de cerveja pela metade, transportado entre dentes, deparo-me com a GNR a orientar o trânsito no cruzamento próximo. Tento, sem êxito, camuflar o néctar de lúpulo, perante o riso dos agentes da autoridade, que me deixaram seguir caminho sem repreensão.
Antes de abandonar a estrada depositei o copo vazio no contentor para o efeito. Este pequeno gesto devia fazer parte dos hábitos dos desportistas. É lamentável andar por esses trilhos dentro e encontrar no chão embalagens vazias de barras e gel energético. Esse lixo não pesa nada, portanto transportá-lo num bolso até ao caixote mais próximo ou até ao final das vossas voltas é um dever de todos nós.
A cerveja ainda estava a descer pelo esófago quando os primeiros singletracks surgiram. O clássico Trilho da Avozinha seguido pelo Cuidado com a velha deram as boas-vindas ao Parque de Diversões Lama Solta! Um começo inclinado, ideal para queimar a cervejinha ingerida, acordou o corpo para o que se seguiria. Um ziguezagueante sobe e desce pela floresta do Louriçal e arredores, este ano com mais pó do que lama, através de trilhos fantásticos onde a adrenalina andou sempre no máximo á semelhança das suspensões das bicicletas e a diversão teve via verde! Numa dessas subidas estavam duas ginastas perdidas, de megafone em punho, que não se cansavam de incentivar os betetistas!
Ainda a recuperar o fôlego do Trilho Até te Borras – não faltava uma sanita e papel higiénico no final da descida? – chegámos ao primeiro reforço. Tudo de sorriso no rosto, tanto pelo trajecto já percorrido como pela promessa de uma cerveja fresca á nossa espera. Apesar de ainda ser muito cedo já todos tinham peripécias para contar, vontade de continuar o trajecto e, mais do que tudo isso, os estreantes neste evento já demonstravam vontade de regressar!
Com uma série de brindes feitos e com as energias repostas voltamos a arrepiar caminho a todo o gás, até sermos interceptados por duas trabalhadoras da construção cívil que estavam a concluir um muro que dava por encerrado o percurso mais longo da prova, o que nos deixou um pouco desiludidos. Mas não baixámos os braços e, visto que o nosso percurso iria ter menos quinze quilómetros, decidimos aplicar a energia de sobra ajudando as trabalhadoras na construção do muro. Por isso, o Pedro e o Zé Manel estacionaram as bicicletas e meteram mãos à obra. Munidos de pá, betoneira, colher de trolha, fita métrica e nível fizeram corar de inveja o melhor dos trolhas! Como recompensa, tiveram direito a um lanche matinal à base de pão e enchidos, regados com sumo de uva!
Com mais uma obra no currículo lá continuamos nós, rumo a mais uma empreitada de trilhos.
Mais descida, menos descida chegámos ao ponto de união dos dois percursos. Um semáforo intermitente, sim um semáforo!, alertava para isso mesmo. Aliás, pensando melhor, não sei se o aviso seria devido ao cruzamento de percursos ou se seria por o diabo andar à solta, ou melhor, uma diaba e dois anjinhos. Mais uma barrigada de risos e uma sessão fotográfica para a posteridade!
Já prestes a retomar caminho, uma mesa á sombra chamou por nós. Nela jaziam garrafas de vários licores, com cores e aromas distintos. Bem, escusado será dizer que não partimos sem brindar!
Daí até ao final, mais uma dose de trilhos alucinantes, dos quais destaco o Trilho do Manso com o seu serpenteado entre pinheiros e descidas onde nem todos escaparam sem beijar a caruma, que o diga o ciclista da bicicleta amarela que voltou a cair no mesmo sítio de 2016!
Mais ponte menos ponte, eis que chegámos à cabaninha da cerveja e da música ao vivo. Isso mesmo, uma cabana de madeira, onde nos serviram um fino de entrada, seguido de música ao vivo no interior da mesma, onde até um coelho louco fez um espectáculo de paul dance! Meu Deus, seriam alucinações provocadas pela cerveja?
Num estalar de dedos chegámos à meta, quase em simultâneo e de barriga quase cheia pois ainda tínhamos espaço para mais uns trilhos.
Para finalizar o excelente dia por terras do Louriçal, participámos do tradicional almoço convívio onde não faltou a especialidade de bacalhau na brasa, acompanhado por batata a murro, ou a alternariva massa com carne. Apenas ficou a faltar, e deixámos como sugestão, uma alternativa vegetariana.
A décima sétima edição deste mega evento de btt, organizado pelos Lama Solta, continuou a corresponder a todas as expectativas, quer a nível dos percursos, quer a nível de organização.
Foi muito bom rever amigos, matar saudades destes trilhos e voltar a respirar btt!
Sem dúvida alguma que nos DIVERTIMOS SEM MODERAÇÃO!!!
ROTA??
Ricardo Marques
25/09/2022