4ª Meia Maratona Vilela BTT’14

A MaratonaDSC_0168 de Vilela começou bem cedo. Às seis da manhã tocou a alvorada. Os cerca de 160 quilómetros que nos separavam desta simpática localidade do concelho de Oliveira do Hospital obrigou-nos a um esforço extra mas, quem corre por gosto não cansa.

A viagem decorreu sem grandes percalços e, por volta das oito e meia da manhã já estávamos a respirar o ar puro de Vilela. Esta localidade, situada no sudoeste do concelho de Oliveira do Hospital, está cercada pela Serra do Açor a sul, pela Serra do Caramulo a noroeste e pelo Parque Natural da Serra da Estrela a este.

Na sua primeira participação neste evento, o Rota da Rolha BTT contou com apenas dois elementos. Por diversos motivos não pudemos ver a nossa presença reforçada com mais atletas. Mas, eles só não estiveram presentes fisicamente, pois o seu apoio aos colegas foi sentido.

Antes da partida já eram notórias a boa disposição e simpatia por parte da organização, evidenciadas no momento de humor proporcionado na linha de partida onde, ao som de Jorge Jesus, conseguiram arrancar uns sorrisos fumegantes aos participantes, ajudando a esquecer a temperatura com valores inferiores a dois dígitos.
Sob a hora marcada foi dada a partida e, por entre o casario e ao som dos aplausos dos locais, lá arrancou a mais de centena e meia de betetistas. Ao contrário do que é habitual, a comitiva do Rota da Rolha BTT partiu na dianteira do pelotão.
Os primeiros metros de prova foram feitos em asfalto, sempre em ascensão. O ar gelado a invadir os pulmões, a falta de aquecimento antes da prova, aliados ao facto de não treinar há duas semanas e de desconhecer o percurso a nível de altimetria estavam a pesar-me, quer nas pernas, quer no subconsciente. Mas, não quis desperdiçar o bónus que é partir na frente. Por isso, tentei acelerar um pouco nestes primeiros metros, pelo menos até abandonar a estrada. Como gosto de trepar, lá fui serpenteando estrada acima até que, por ordens de Jorge Jesus (seriam uma constante placas de cariz humorístico com JJ como protagonista), pisámos a terra fresca.
A minha experiência em provas de BTT diz-me que, os primeiros quilómetros costumam ser rolantes, para esticar o pelotão e definir ritmos. Mas, em Vilela foi muito diferente! Assim que deixámos a estrada esperava-nos uma tareia de singletracks, onde não faltaram cotovelos, pontes, passagens estreitas e túneis por entre o silvado. Foi pura diversão!
Por volta dos 8-10 quilómetros dei por mim completamente estourado (a falta que o aquecimento faz) e admirado por constatar que ainda tinha percorrido poucos quilómetros. Decidi baixar um pouquinho o ritmo até que as pernas resolvessem acordar. O terreno estava muito pesado, com alguns troços com muita lama onde era impossível não bailar com a bicicleta.
Pelo caminho ainda parei para disponibilizar a minha bomba a um atleta que estava com problemas no pneu.

Chegados ao reforço eis que fomos brindados por uma bela surpresa: um concerto de acordeões! A destreza e sabedoria com que produziam música era contagiante e dava vontade de ficar ali sentado a assistir. Aproveitei o intervalo entre duas músicas para retomar a marcha.
Na fase inicial da prova ainda considerei optar pelo percurso mais pequeno mas, aos poucos fui recuperando as pernas e decidi continuar no percurso dos 45 quilómetros e sofrer se fosse necessário.
Nesta segunda metade do percurso tivemos a companhia de um elemento extra: a chuva. O S.Pedro tinha dado uma trégua ao Outono disfarçado de Inverno e, até então, estava a brindar-nos com um belo dia de sol outonal. Apesar de tudo a chuva foi breve e branda.
Grande parte desta fase do percurso foi composta por estradões florestais e um ou outro singletrack. Fomos passando por várias povoações que se mostravam vibrantes no apoio. Houve ainda tempo para um segundo reforço. Foi aqui que reparei que, enquanto assistia ao concerto de acordeões no primeiro reforço, elementos do staff encheram-me os bolsos com chocolates e tangerinas!

Estava já em gestão de esforço para conseguir aguentar os 45 quilómetros quando, ao longe, avistei o pórtico de chegada. Isso funcionou como uma injecção de ânimo e mesmo reparando que, pelas contas do meu conta-quilómetros, ainda faltavam cerca de oito quilómetros as forças voltaram. Mas, para enorme surpresa minha era mesmo o final.
Na meta informaram-me que foram obrigados a cortar partes do percurso por estas se encontrarem intransitáveis. É lamentável mas perfeitamente compreensível. Fiquei um pouco desanimado pois, se tivesse tido conhecimento prévio desse pormenor, não me teria resguardado tanto e teria dado um pouco mais. Mas, ainda assim fiquei contente com a minha prestação.

Após a prova decorreu um almoço convívio, onde foram atribuídos os vários prémios relativos à prova, seguido de um sorteio de vários produtos da região. Fui premiado com uma garrafa de vinho. A despedida realizou-se, inevitavelmente, ao som de acordeões que originaram um mini salão de baile.

A simpática, prestável e animada organização da Maratona de BTT de Vilela merece uma nota positiva. Em breves impressões que trocámos com a organização ficamos a conhecer melhor o espírito de equipa que ostentam. Todos sabemos que, hoje em dia, as dificuldades são mais do que muitas, mas provaram que com pouco se pode fazer muito e que, com empenho, dedicação e paixão tudo se consegue. E provaram-no dentro e fora dos trilhos!
Contudo, detectámos alguns aspectos menos positivos que aqui partilho, de forma construtiva:

– Sinalização: a escolha da cor das fitas não foi feliz. Nesta época do ano, a paisagem está pintada em tons de castanho e laranja. Por vezes as fitas vermelhas (muitas delas já pálidas) camuflavam-se na paisagem, dificultando assim a sua identificação à distância e a olho nú. Na zona dos moinhos cheguei mesmo a enganar-me. Como sugestão, para futuras edições poderiam optar por aquelas fitas vermelhas e brancas ou só brancas.
No capítulo da sinalização devo referir também o uso da cal. Para ser franco não sou muito adepto do método, muito menos em época propícia a chuva e consequente lama. Em algumas zonas a cal estava de difícil interpretação.
Por fim, o tamanho das placas de mudança de direcção. Em uma ou outra ocasião tive necessidade de travar a fundo, por ver a placa muito em cima.

De resto, estão francamente de parabéns! O percurso estava agradável, os singletracks muito divertidos, os reforços não envergonhavam ninguém, pontos de água, banhos com boas condições, almoço saboroso e ambiente impecável!

Para o ano esperamos regressar. Se possível, em peso!

Ricardo Marques
17/11/2014

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